sábado, dezembro 02, 2006

Mais sobre profissão-jornalista

Algumas meninas pediram, outras me permitiram: ta aí o texto opinativo que escrevi para a matéria da Mônica. Eu acho que ele é meio confuso e desconexo no final... e ele não tem um título.

As reportagens sempre contêm um tom mais pesado; são relatos “mais humanizados”, trazem assuntos para o leitor refletir de maneira mais demorada. Ao escrevê-las, o jornalista parece sentir-se mais livre para deixar transparecer o que pensa. Essa é uma impressão que, imagino eu, tem muito a ver com esse jeito mais flexível (narração, descrição, opinião) de ser da reportagem.

Já as matérias diárias de um jornal têm quase sempre o ar de breves histórias pouco contextualizadas, que acabam assim que é dado o ponto final. Não há uma continuidade no assunto e nem muito sobre o que refletir; matérias são o fato pelo fato. Mas, será que é assim mesmo?

É estranho pensar que os jornalistas não emitem opiniões no que fazem no dia-a-dia, e, quando vão escrever reportagens, transformam-se em profissionais perspicazes, politizados e opinativos. Não funciona assim. Também não dá para engolir aquela velha história de que, pelo pouco tempo que tem, o profissional do jornalismo não pára e reflete quando escreve as matérias diárias. Também não funciona desse modo. O jornalista tem prática no que faz e, na maioria das vezes, já tem o seu juízo pronto na hora que entrevista suas fontes. O que acontece é que o que se escreve nas redações todos os dias tem sempre marcas opinativas pouco perceptíveis.

Afinal, já dizem alguns teóricos do jornalismo: “não há imparcialidade”. É praticamente impossível escrever uma frase que não contenha traços de uma opinião. Há casos em que eles são tímidos e escondem-se por trás dos verbos dicendi. Outras vezes, eles se mostram descarados na forma de adjetivos e advérbios. A tal da imparcialidade é um valor que surgiu no início do jornalismo, lá na época do positivismo, e que, até hoje, é venerada pelos donos de jornais e pelos jornalistas. Mesmo sabendo que ela não existe, continuam a procurá-la. Isso seria ótimo, por que é sempre bom tentar alcançar algo que é ideal, não fosse o fato de que, além de venerá-la, os jornalistas e donos de jornais acreditam verdadeiramente em sua existência, e crêem com veemência que a praticam.

É muito comum ver por aí jornais, canais de TV e estações de rádio que se orgulham da imparcialidade presente em suas notícias. Também é usual que veículos sejam batizados de “O Imparcial”. Mesmo assim, lendo o que neles há escrito, rapidamente depara-se com notícias que demonstram apreço por certo político ou que cutucam o ego de outro, ou mesmo que divulgam os interesses de algum de seus anunciantes.

Assim termino por dizer que essa distinção entre reportagem e matéria diária é muito mais tênue do que parece: ela não reside na presença ou não de elementos de opinião e nem na facilidade de encontrá-los. A diferença encontra-se muito mais no valor mercadológico dado às matérias; elas são produtos a venda nos jornais e revistas que estão a disposição de consumidores com poder de compra e interesse em “manterem-se informados” sem muita necessidade de aprofundamento. A reportagem – um gênero em extinção no Brasil – é muito mais densa e complicada e não pode (e nem deve) ser lida as pressas na correria do nosso “mundo moderno”. Reportagem deve ser sinônimo de reflexão e memória.

And that’s all folks...